sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um poeta, uma época

UM POETA, UMA ÉPOCA (I)

Sitônio Pinto

Vanildo Ribeiro de Lyra Brito desempenhou um papel de grande importância na renovação das artes na Paraíba, no fim dos anos cinqüentas do segundo milênio. Naqueles tempos, um grupo de jovens procurava caminhos para uma nova estética. Essa tendência manifestava-se não só na poesia, onde Vanildo Brito era destaque, mas no teatro, no cinema, nas artes plásticas.
Um grupo de 14 poetas (catorze, como os versos de um soneto) deu referência temporal a essa tendência, pois publicou antologia com a data/título: Geração 59. A data não está muito exata, que o livro já estava pronto desde 1958; mas, por dificuldades técnicas, só pôde sair do prelo em março de 1959, modificando-se, assim, o seu título.
O grupo era constituído por Celso Almir Japiassu Lins Falcão, Clemente Rosas Ribeiro, Geraldo Medeiros, João Ramiro Farias de Mello, Jomar Morais de Souto, José Bezerra Cavalcanti, José (Zezito) Cabral, Jurandy Moura, Liana de Barros Mesquita, Marcos Aprígio de Sá, Luiz Correa, Ronaldo José da Cunha Lima, Tarcísio Meira César, Vanildo Brito.
Eu cheguei depois, em 1961, aos dezesseis anos. Não sou da Geração 59, como pensam alguns, mas seu filho, ou continuador da G-59, como também era chamada. Outros também chegaram empós, como a poetisa Rejane Sobreira e o poeta Marcos dos Anjos, que logo se afastou da G-59 para formar o Grupo Sanhauá — com suas edições mimeografadas e capas em xilogravura sobre papel carne-seca, diagramadas por Pontes da Silva. Não fui da antologia, pois na época tinha apenas 14 anos, mas fiz parte do fenômeno da Geração 59 — que abrangia um tempo maior e uma área de atividades além da poesia, como pretendo mostrar. Falo assim porque falar de Vanildo Brito é falar da Geração 59, e vice-versa.
Não era bem um movimento; era mais uma tendência, um sentimento de renovação. O movimento de 1922 já havia chegado à Paraíba, como testemunham alguns textos de Olivina Carneiro da Cunha, o notável poema Hospitalidade, da autoria de Aderbal Piragibe, e o manifesto modernista assinado no Sertão, no município de Princesa (atual Princesa Isabel), por membros do Grêmio Literário Pereira Lima, sob inspiração do intelectual Joaquim Inojosa.
O grupo de poetas da Geração 59 teve um grande estímulo quando Vanildo Brito assumiu a editoria do suplemento literário A União nas Letras e nas Artes, continuador do antigo Correio das Artes (o suplemento literário mais antigo em circulação no Brasil). O Correio das Artes foi fundado em 1949 por Orris Soares (o mesmo fundador do jornal O Norte), mas seu nome sofreu mudança na editoria de Vanildo Brito, por conta do surgimento, na época, do jornal Correio da Paraíba. Posteriormente, continuou sendo publicado sob o título de U-2, na editoria de Jurandy Moura, voltando ao seu título antigo na editoria de Sérgio de Castro Pinto, quando foi alçado à condição de suplemento nacional e ganhou o prêmio de melhor suplemento literário brasileiro. (Continua).