A concordata
Sitônio Pinto
Desde adolescente ouvia dizer que o capitalismo iria quebrar; que a História se repete; que os EUA seriam uma re-edição do império romano, que os EUA iriam à falência como Roma foi com sua despesa de guerra. Já faz meio século que ouço essa história. Confesso que torcia para isso, mas não acreditava. Houve um tempo em que a União Soviética e a França quiseram re-estabelecer o ouro como padrão internacional para desbancar o dólar e a libra de sua condição de moedas-padrão. O argumento dos restauracionistas era de que os EUA não tinham lastro-ouro para garantir sua moeda e sua inflação, considerada a maior do mundo, só que exportada para os outros países. Mas os gringos diziam que tinham PIB para garantir a emissão de moeda. E a volta ao padrão ouro ficou para outra vez.
O diabo é que a despesa de guerra dos EUA, se onerava o país, por outro lado dava lucro à indústria bélica – que tem um espectro maior que a indústria armamentista, pois o fornecimento de refeições e papel higiênico para as forças armadas também é indústria bélica. Quem quiser, faça a conta: os EUA mantinham um exército de meio milhão de homens no Vietnã; veja-se quanto representavam em dólares o fornecimento de três refeições por dia, mais os lanches, e os chicletes. É o que se chama de munição de boca, quase tão cara quanto munição das armas.
O estado norte-americano está gastando tulhas de dinheiro com as guerras do Iraque e do Afeganistão. Mas os patrocinadores das campanhas eleitorais, que elegem deputados, senadores, prefeitos, governadores e o próprio presidente, estão ganhando cascatas de dólares. E haja guerra, mesmo que custe a morte de civis estrangeiros e de jovens sobrinhos do Tio Sam. Diz-se até que a despesa dessas guerras é financiada com dinheiro emprestado pela China comunista, o país que tem a maior reserva de dólares no mundo. Venha de onde vier o dinheiro, o fato é que o gasto é grande, e tem que ser pago. Um dia, a casa cai - como a cachoeira de Niágara.
Eu pensava que a previsão da falência dos EUA fosse conversa de comunistas. Mas, agora, tudo indica que Tio Patinhas quebrou. Exemplo disso é a concordata pedida pela General Motors. Dizia-se que a segunda maior organização do mundo era a GM, pois o primeiro lugar ficava para a Igreja Católica. A GM pediu concordata depois de receber do governo dos EUA a maior ajuda financeira que uma empresa já recebeu, o que levou o estado norte-americano a ser detentor de 60 % de seu capital. Isso fez da GM uma empresa estatal, ou uma economia mista, fato tão contrário à filosofia liberal e capitalista vigente na terra de Marlboro. E o pior, ou melhor, é que não é só a GM que foi à bancarrota nos EUA: essa semana, a Suprema Corte de lá autorizou a compra da Chrysler pela Fiat. Quem diria que uma das gigantes automobilísticas da América do Norte pudesse, um dia, ser comprada por uma empresa italiana!
A concordata e falência de Tio Sam já vai engolindo mais de trinta bancos, e vai engolir mais. Ah, e se fosse só bancos e fábricas de carros! E a indústria cinematográfica, que, faz anos, os japoneses começaram a comprar? Acabaram-se aqueles filmes em que os soldados yanques estrepavam e torravam os japoneses com suas baionetas e seus lança-chamas. O cinema também pegou fogo
11/06/2009